UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A ARQUITETURA
ARKHÉ TÉKTON
A origem da Arquitetura remonta à pré-história quando a humanidade começou a dominar as técnicas de trabalhar com a pedra, criando abrigos para proteger das intempéries e dos predadores. A predisposição do Homem para a vida social e o desenvolvimento da agricultura e da pecuária fez com que os habitantes que antes usufruíam das cavernas e das primeiras construções criassem as aldeias, evoluíssem para os povoados e mais tarde às cidades.
De acordo com relatos históricos e descobertas arqueológicas, os sumérios (povo que desenvolveu sua civilização na região sul da Mesopotâmia – atual Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, por volta de 6500 a.C. e 1950 a.C.) são considerados a primeira população urbana global. Sua civilização é destaque na arquitetura, engenharia, religião, leis, sociedade e política.
Etimologicamente, “arquitetura” deriva-se do grego “Arkhé Tékjton” (Construção Principal), referindo-se à atividade de projetar e construir ambientes internos e externos para determinada (s) finalidade (s). É uma ciência, visto que seu conhecimento sistematizado é adquirido através da observação, identificação e explicação de determinadas categoriais como a elaboração de projeto, a organização de espaços e atividades, o agenciamento de recursos, o ordenamento, a tecnologia e os materiais e a estética, que são formulados de forma metódica e racional.
ESTÉTICA + TÉCNICA + FUNÇÃO
A Arquitetura manifesta-se tanto como atividade (arte e profissão), quanto como elemento físico (edificação, paisagem urbana, mobiliário), sendo assim, abrange o design/estilo (edificação, volumetria, forma), o contorno, o planejamento e o ordenamento urbano (urbanismo), o desenho de paisagem (paisagismo) e o desenho de mobiliário (desenho industrial).
No que diz respeito à atividade, ela é uma ciência multidisciplinar, envolvendo matemática, física, arte, ciências sociais, política, história, geografia, filosofia, entre outros.
A ARQUITETURA VITRUVIANA
A Arquitetura convencional trabalha em cima do que é conhecido como “Tríade Vitruviana” (venustas, firmitas, utilitas) que alega que para ser considerado “arquitetura”, o objeto deve conter (e em equilíbrio) a Forma, a Estética e a Função. Na ausência de um desses princípios de ordem projetual, faria com que a obra não pudesse ser considerada como tal.
Marcos Vitrúvio Polião foi um arquiteto romano do século I a.C e produziu uma obra titulada “De Architecture” (tratado europeu do período grego-romano que inspirou, até na contemporaneidade, textos em arquitetura, urbanismo, engenharia e hidráulica) que entre outros fatores, fundamenta os três princípios da arquitetura (forma, estética e função). Para Vitrúvio, todo arquiteto deveria possuir um conhecimento sistemático amplo, dentro das ciências e das artes, como geometria, história, matemática, música, medicina e astronomia.
Posteriormente, a obra de Vitrúvio inspirou o “Homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci, a Proporção Áurea e a Sequência de Fibonacci.
Definição e relação dos três pilares vitruvianos:
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Estética: da palavra grega “aisthesis”, significada “percepção sensorial”. A estética baseia-se de princípios compositivos organizados de (a) proporção, (b) volumes, linhas e planos e (c) harmonia e estilo. Em arquitetura, relaciona-se à plástica que é influenciada pela percepção dos sinais e características dos objetos diante da expressão objetiva dos mesmos (proporção, ritmo, hierarquia, volume, peso, cores, texturas, linhas etc) e à beleza que por sua vez é influenciada pela importância que o expectador transfere para o objeto, de acordo com seus valores e normas socioculturais temporais.
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Funcionalidade: conjunto de qualidades que garantem a função do espaço arquitetônico ao qual se destina. A funcionalidade baseia-se no emprego do (a) programa de necessidades, (b) dimensionamento e (c) organização espacial.
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Técnica: consiste em um conjunto de regras ou procedimento para execução de algo. Em arquitetura, relaciona-se à (a) tecnologia, (b) sistema construtivo e (c) materiais construtivos.
NEUROARQUITETURA
A neuroarquitetura consiste no estudo multidisciplinar da relação entre neurociência e a influência que o espaço construído tem sobre o cérebro humano. Tal ciência pressupõe que o ambiente influencia de forma direta nos padrões (mais primitivos) e universais de funcionamento do cérebro, que foram sendo moldados ao longo da evolução.
Relacionando-se à psicologia ambiental, a neuroarquitetura, por meio dos estudos, entre outros, do Campo Sensorial (sensações e emoções), do Campo Cognitivo (o que o indivíduo conhece do mundo, experiências vividas, conhecimento adquirido e crenças pessoais) e do Campo Comportamental (tradução dos comportamentos), trabalha para analisar e fomentar a gama sensorial dos indivíduos em um ambiente e como consequência, haverá uma resposta comportamental para tal.
Na neuroarquitetura, aplica-se conceitos de design biofílico (diretriz direta ou indireta), Teoria da Empatia, do framing (enquadrar uma situação – normalmente comportamental), do nudging (“empurrão” – entrega uma informação através de projeto com indícios, não diretamente) e do priming (dá ao usuário uma sequência de estímulos para que ele seja convidado a exercer um determinado comportamento).
Um dos tópicos bastantes utilizados nela, para aumentar a gama sensorial, é o emprego de iluminação, design sinuoso, cores, formas, texturas, odores e iluminação.
MOVIMENTOS ARQUITETÔNICOS
Todo o desenvolvimento da Humanidade apresenta profundas modificações em ideias, interpretações, representações e até mesmo no próprio pensamento filosófico. Tais mudanças afetam a forma com a qual os indivíduos enxergam o mundo, transformando a linha de raciocínio, rompendo paradigmas e surgindo novos ideais. Deveras vezes, essa ruptura temporal filosófica influenciou profundamente a forma com que a arquitetura e áreas a fins se comportam, como por exemplo, a transição do período Gótico (XII ao XV d.C.) para o Renascimento (XIV ao XVI d.C.), onde no primeiro, a linha de pensamento predominantemente teocêntrica deu lugar a um raciocínio mais lógico e Humanista. Tanto a Arte quanto a Arquitetura classificam esses períodos da História. Na Arquitetura, eles representam os Movimentos ou Estilos Arquitetônicos e são julgados em decorrência de suas características, entre outras, conceituais, plásticas (volumétricas), funcionais, técnicas e construtivas. Diversos desses estilos coexistiram por um tempo.
Destaca-se os principais Movimentos/Estilos/Épocas da Arquitetura:
ARQUITETURA NEOLÍTICA (8000 a.C. – 3000 a.C.): grupos nômades que habitavam cavernas e construíam abrigos com materiais vernaculares.
ARQUITETURA ANTIGA (6500 a.C. – 700)
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Arquitetura Sumérica (6500 a.C. – 1950 a.C.)
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Arquitetura Babilônica (4000 a.C. – 300 a.C.)
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Arquitetura Egípcia (4000 a.C. – 30 a.C.)
ARQUITETURA CLÁSSICA (700 a.C. – 400)
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Arquitetura Grega (700 a.C. – 300 a.C.)
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Arquitetura Romana (200 a.C. – 400)
ARQUITETURA MEDIEVAL (100 – 1300)
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Arquitetura Bizantina (330 – 1453)
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Arquitetura Românica (900 – 1100)
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Arquitetura Gótica (1100 – 1300)
ARQUITETURA DA IDADE MODERNA (1300 – 1800)
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Arquitetura Renascentista (final do século XIV – 1500)
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Arquitetura Maneirista (1515 – 1600)
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Arquitetura Barroca (1500 – 1700)
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Arquitetura Colonial (1500 – 1822)
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Arquitetura Rococó (1700 – 1800)
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Arquitetura Neo (Neoclássica, Neogótica, Neocolonial) (1755 – 1830)
ARQUITETURA MODERNA (meados século XIX a 1950)
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Arquitetura Eclética (meados do século XIX – início do século XX)
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Artes e Ofícios (1880 - 1910)
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Art Nouveau (1890 – 1910)
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Art Déco (1910 – 1939)
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Arquitetura Futurista (1910 -)
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Arquitetura Modernista – “Estilo Internacional” (1910 – 1950)
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Arquitetura Construtivista (1920 - 1930)
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Arquitetura Brutalista (1950 – 1960)
ARQUITETURA PÓS-MODERNA (1950 – 1990)
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Arquitetura Minimalista (1960 - )
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Arquitetura High-Tech (1970 - )
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Arquitetura Desconstrutivista (1980 - )
ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA* (atual): representa a abertura de possibilidades do arquiteto utilizar do conceito e plástica da forma que preferir, inserindo elementos arquitetônicos dos diversos períodos aqui mencionados.
*Alguns autores não distinguem a Arquitetura Pós-Moderna da Contemporânea.
A BAUHAUS
A Bauhaus é uma escola de artes plásticas, design e arquitetura de vanguarda fundada em 25 de abril de 1919 em Weimar, Alemanha, pelo arquiteto Walter Gropius. Em 1925, ela foi transferida para Dessau, também na Alemanha. Esta Escola é uma das maiores e mais importantes expressões do Modernismo. Suas características estão nos preceitos de funcionalidade, nas linhas retas e nas formas simples, no visual minimalista da obra/objeto, em uso de novos materiais pré-fabricados, pouca ou nenhuma decoração ou adorno, uso da cor branca, etc. A Bauhaus influenciou diversos arquitetos, artistas e designers, como Mies Van Der Rohe (Alemanha, 1886 – 1969) e Oscar Niemeyer (Brasil, 1907 – 2012).
Em 1933, o governo nazista fechou a Escola pois alegava que a mesma não seguia sua orientação política. Para os nazistas, ela possuía uma frente comunista. Além disso, a consideraram “anti-germânica” e não concordavam com seu estilo modernista.
Na arquitetura, a ação direta ou/e indireta da Bauhaus é fortemente presente nos ideais e na linguagem da Arquitetura Moderna e na Pós-Moderna.
Seu impacto sem precedentes nas décadas seguintes ao seu fechamento foi fundamental para o desenvolvimento das artes e da arquitetura na Europa Ocidental, na América (continente) e até mesmo em Israel. A arquitetura (edifícios) e o urbanismo (setorização dos serviços – residências, comércios, lazer, indústrias, instituições etc – traçados de quadras e vias etc) do Plano Piloto de Brasília foram projetadas sob tendências modernistas e funcionais introduzidas pelo bauhasianismo.
Atualmente, a Bauhaus é considerada uma das melhores universidades em ensino da arquitetura, design, música, mídia, etc da Alemanha.
As principais características do Pós-Modernismo em diante, está no estilo High Tech, no neobrutalismo, na sustentabilidade, no futurismo e no uso de materiais vernaculares.
SUSTENTABILIDADE
A arquitetura sustentável é a busca por soluções que atendam ao programa definido pelo cliente, às suas restrições orçamentárias, ao anseio dos usuários, às condições físicas e sociais locais, às tecnologias disponíveis, à legislação e à antevisão das necessidades durante a vida útil da edificação ou do espaço construído. Essas soluções devem atender a todos esses quesitos de modo racional, menos impactante aos meios social e ambiental, permitindo às futuras gerações que também usufruam de ambientes construídos de forma mais confortável e saudável, com uso responsável de recursos e menores consumos de energia, água e outros insumos.
Para projetar edifícios e planejar urbanisticamente de forma sustentável, entre outros, deve-se considerar os esquemas e a implantação de edificações de forma específica para cada tipo de clima e região, considerando fatores como insolação, clima, flora, fauna, etc, a integração dos serviços de infraestrutura urbana (transporte coletivo, rede de água, rede de coleta e tratamento de esgoto, sistema de drenagem de água pluvial, rede de distribuição de energia elétrica e gás etc), inclusão dos serviços urbanos para moradores e turistas e necessidades dos usuários.
OS SETE ECOS
O planejamento (o projeto) está diretamente associado ao sucesso da obra. É no projeto que se estuda e se elabora as melhores possibilidades de implantação dos elementos para que em sua execução, não hajam imprevistos que alterariam as qualidades da obra.
A partir dos estudos de sustentabilidade aplicados em arquitetura e urbanismo, surgiram os “Sete Ecos”, comentados na bibliografia "Minha Casa Sustentável" e explicados a seguir:
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Ecoeficiência da Água: aproveitamento de água pluvial, equipamentos economizadores de água (vaso sanitário com caixa acoplada e/ou com descarga de duas funções, torneiras com aerador, temporizador e/ou sensor de presença e encanamentos de qualidades e dimensionados corretamente;
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Ecoeficiência de Acessibilidade: ambientes e espaços projetados para todos os tipos de pessoas, incluindo as Portadores de Necessidades Especiais – PNE (cadeirantes, cegos, etc);
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Ecoeficiência de energia: aquecimento solar, sistema fotovoltaico, energia eólica, sensores de presença, lâmpadas fluorescentes ou de LED;
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Ecoeficiência de Materiais: ecoprodutos (areia reciclada, cimento CPIII, pavimentação permeável, madeiras plásticas ou de reflorestamento, telhado verde, verniz à base d’água, fachada verde e tintas naturais);
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Ecoeficiência de Recursos Naturais: aproveitamento dos ventos predominantes, da vegetação, da insolação e da água;
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Ecoeficiência de Resíduos: reciclagem e reuso de resíduos gerados durante e após as obras e tratamento de esgoto doméstico.
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Ecoeficiência do Projeto: profissionais de qualidade, forma (para acompanhar a função), orientação (para captar e circular a ventilação e absorver adequadamente os raios solares), proporção (espaços e ambientes com dimensões apropriadas), setorização de áreas hidráulicas, cores (tons escuros absorvem mais calor e esquentam mais) e desníveis (aproveitar as curvas do nível do terreno).